Índio Mura

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Reminiscências de uma viagem a um Brasil profundo

Depoimento de Cris Burlan, cineasta cabano:
Passado um mês da experiência de ter participado da Caravana da Memória Cabana, busco não filtrar as impressões e sensações ocorridas durante o trajeto, as experiência adquiridas e afins.
Minha memória, antes de mais nada, é olfativa, e através das lembranças de todos os aromas e cheiros, consigo reconstruir uma partitura do que foi essa viagem.
O desafio de resgatar, através do audiovisual, este acontecimento tão distante e marcante da historia brasileira, e tão pouco conhecido, se dá no campo do imaginário coletivo.
As possibilidades são muitas de se deixar levar por devaneios estéticos e científicos, mas ir por este caminho me levaria a uma estrada sem fim.
Acredito piamente no poder do cinema como uma arte epifânica e catártica. Por mais que eu queira domar/controlar/conduzir/manipular o material captado, isso seria impossível. Não tenho controle sobre isso, todas as imagens, depoimentos e sons captados, durante nossa viagem, tem vida própria.
Quando se está por trás de uma câmera, não existe a plena consciência do objeto ao qual você direciona a mesma. As lentes são filtros da realidade.
Só agora tenho noção da profundidade e diversidade do material captado, neste momento que me encontro na montagem - que é um processo dialético e reflexivo , onde o grande perigo é o do encadeamento lógico. Há que se resistir, e ter uma disciplina espartana, para que as coisas se estruturem naturalmente.
Me chama muito a atenção, não somente os diálogos e os depoimentos, muitas vezes comoventes, mas a expressão e uma certa melancolia, que exprimem esses rostos que fotografei durante a viagem.
Tenho uma certa obsessão pela busca de uma expressividade no tempo morto, e no extra-campo. E, principalmente, naquilo que não pode ser dito, nem fotografado. Creio que nesses espaços vazios, onde deixamos de perguntar e falar, é que reside a tecitura de um filme.
Devaneios a parte, o que eu quero dizer é que agradeço muito por ter participado da Caravana da Memória Cabana, e de ter conhecido todos os integrantes, e todas as pessoas que encontramos durante nossa viagem. Com certeza, uma passagem da minha vida, que vou guardar com muito carinho até o fim dos meus dias.
Ninguém navega impune nas águas do Rio Tapajós.
PS.: Sinto saudades de beber um Tarubá, e dançar ao som do Gambá!!!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Impressões sobre a Caravana da Memória Cabana

Texto escrito por José Renato da Costa Oliveira Júnior, acadêmico de Direito da UFOPa.

Algumas semanas e as minhas memórias começaram a se solidificar e se reconstruir, como diria nosso querido antropólogo "cabano" Leandro, e aqui estou escrevendo mais uma vez. Interessante pensar que elas sempre terão plasticidade, podendo se modificar e se agrupar com outras, incontáveis vezes. Claro, eu ter entrado de férias e ter conseguido um computador com internet contribuiu crucialmente para que após esse aparente hiato esse texto esteja aqui.
Convido também todos os participantes a escreverem! Registremos o que vivemos, antes que a memória se esvaia ou o interesse finde! xD
O que permaneceu forte em minhas lembranças após o retorno para Santarém, do que acredito ser apenas a primeira parte de um projeto que ainda vai crescer e ramificar - como as mudas de plantas de foram dadas de presente as duas figuras icônicas do projeto, seja por ter sido um o principal idealizador e tornador em realidade do que era apenas um sonho, seja pelo outro ter inevitávelmente cativado a todos - foi o estilo de vida de populações que tem sua história atrelada a uma sempre presente luta por seus direitos, sejam os quilombolas, sejam os indígenas e ribeirinhos. Um espírito de luta que se personifica quando ouvimos discursos engajados e conscientes sobre pelo que se tem que lutar.
Paralelamente a isso, fui cativado pelo espírito de cordialidade e generosidade dos que nos receberam. Abro um espaço para agradecer pelo presente que a dona Teresa, mãe do cacique Enoque, de Vila Franca me deu. Foi algo tão espontâneo e de coração, que desde já fica como a memória pela qual eu tenho mais carinho. Parando pra pensar sobre isso, imagino justamente toda essa hospitalidade não foi um dos porquês de tantos indígenas terem sucumbido na mão de estrangeiros, tantos séculos atrás.
Nosso povo é bom de coração, na sua origem, na sua fonte. Talvez pela diversidade que sempre existiu em nossa região, com aldeias indígenas que eram universos completamente heterogêneos entre si, em seus costumes e tradições. Uma colcha de retalhos multicultural.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Frutos da Caravana da Memória Cabana

Texto escrito por José Renato da Costa Oliveira Júnior, acadêmico de Direito da UFOPa.

Das diversas idéias que surgiram dentro da Caravana da Memória Cabana, uma delas foi a de criar um Grupo de Assessoria Jurídica aos Povos Tradicionais do Baixo Tapajós, pensada pelo Leandro (Antropólogo) e endossada pelos alunos do curso de Direito da Universidade participantes do projeto.
Interessante pensar que, talvez obra do destino, arquitetada pelas almas dos cabanas que jazem na região e seus clamores que ecoam pelo tempo e espaço, ao voltar para Santarém, em uma reunião do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Universidade , foi posta em pauta a criação do NAJUP (Núcleo de Assessoria Jurídica Popular). Caiu como uma luva na idéia de criação do grupo de assessoria jurídica, pois perfeitamente poderia existir como parte especializada dentro do NAJUP.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Depoimento de Florêncio Vaz

A experiência da Caravana Cabana foi fantástica, e superou em muito as minhas expectativas e as dos outros participantes. Minha avaliação foi que tivemos um sucesso total em relação ao nosso projeto inicial, que era recolher relatos sobre a Cabanagem para produzir documentários, livros, fotos etc. O material foi colhido.
Visitamos nove comunidades ou grupos, incluindo o encontro com quilombolas em um bairro de Santarém. Temos agora um arquivo de quase 50 horas de entrevistas em vídeo e outras tantas em áudio, o que já constitui seguramente o maior arquivo do tipo sobre as memórias da Cabanagem no Oeste do Pará. Aproximadamente 80 pessoas de diferentes comunidades deram seus depoimentos. As fotos captaram rostos, expressões e paisagens lindas. As anotações feitas pelos membros da Caravana ainda vão dar muitos frutos.
Digo que o resultado foi um sucesso total quando me refiro aos profundos impactos que a CARAVANA provocou nos moradores das comunidades visitadas e seus vizinhos, que acorreram aos locais para nos encontrar e que ficaram estimulados a lembrar e recontar suas histórias, mitos e sonhos. Sem contar que as pessoas aproveitaram o momento para mostrar danças tradicionais, bebidas e beijus, para fazer fogueiras e rituais. Falar da Cabanagem para eles é falar e vivenciar o seu "modo de vida total", incluindo o tarubá, o xibé e a comida coletiva.
Mesmo moradores de lugares que não foram visitados pela Caravana se interessaram e seus moradores chegaram a alguns dos locais por onde passamos. Outras comunidades mais distantes passaram a olhar com mais atenção para a cabanagem e o seu papel na história regional. Eles estão falando mais das suas lembranças sobre o seu passado. E aguardam a sua oportunidade de também contar as suas histórias.
Na cidade de Santarém, a mídia local deu bastante espaço para a Caravana, e vários caravanistas falaram da importância dessa guerra para a história da Amazônia e até do Brasil. A Rádio Rural promoveu um “debate” somente sobre a Cabanagem e a Caravana. Certa vez, antes de entrevistas os “paulistas”, uma repórter perguntava “por que pessoas vêm de São Paulo em busca das memórias da cabanagem, enquanto os moradores daqui mesmo não se interessam?” Certamente, depois dessa provoção muitos começaram a se interessar.
A viagem também provocou impactos nos participantes da Caravana, paulistas e paraenses. Todos voltamos aos nossos mundos transformados e envolvidos nessa ambiência da vida do povo do interior da Amazônia, sejam eles negros, indígenas, ribeirinhos ou outros. Por isso, o grupo decidiu dar continuidade ao projeto coletivo. Os frutos não demorarão. Na verdade já estão aí.
No coração, a saudade das pessoas simples e acolhedoras, dos seus sorrisos e dos seus abraços. Não tem como evitar. NÓS VOLTAREMOS, E SEREMOS MAIS. VOLTAREMOS E SEREMOS MUITOS, MILHARES, POIS NÓS SOMOS OS CABANOS(AS) VIVOS DE HOJE, E AINDA ESTAMOS DE PÉS.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Olho do Infinito

Crônica de José Renato da Costa Oliveira Júnior, acadêmico da UFOPa.

Viemos todos, de diversos cantos.
Nos unimos. Porque?
Havia a pergunta, e no início era apenas o que havia.
Respiramos fundo, mergulhamos, mãos dadas, olhos abertos.
Encontramos a escuridão, ela nos cumprimentou.
Olhamos e vimos ao longe uma chama pequena, tímida, convidativa.
Fomos mais fundo e a pequena chama se agigantou.
Pisamos no chão agora frente a frente com a claridade.
Pudemos ouvir passos, o baque surdo de pés no chão. Sentir gostos, amargos, doces, ancestrais.
Ao nosso redor, vultos, movimentos, mãos e pés, pinturas no corpo. Expressões sendo delineadas.
A Floresta envolveu-nos. Nos ninou em seus fortes braços, disse para não termos medo.
O Silêncio então se fez, e O Passado se abriu através das chamas.
Havia algo ali. Vozes. Aqueles que se foram.
Correntes quebradas, sonhos de "Aruanda".
Uma canoa na beira do rio. Ela jamais veria seu dono novamente.
Flechas quebradas.
Havia a memória, e enfim aqueles que a ouviriam.

Sobre as ondas...

A bordo do barco Celestial, a equipe da Caravana da Memória Cabana viajou pelos Rios Tapajós e Arapiuns e também realizou as chamadas "rodas de troca." Fotos de Clodoaldo Corrêa.

Equipe Cabanagem em Ação

Esta é parte da equipe da Caravana Cabana em ação, em Alter do Chão, junto à alguns comunitários.
Foto de Karime Rubez.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Recepção alegre em Cuipiranga

A Caravana da Memória Cabana, no seu terceiro dia de atividades (e já abordo do barco Celestial) foi alegremente recebida por moradores de Cuipiranga, com uma canção de Sr. Coruja, um líder local:
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"A Caravana, vamos saudar
Sejam benvindos, neste lugar
E nesta terra podem pisar
Estamos prontos, para abraçar.
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Você realmente quer saber
O que aconteceu, há muitos anos atras
O movimento, chamado Cabanagem
foi a revolução publicada nos jornais.
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Um dos sinais, foi a igreja construída
feita com barro e pedra, so tem as laterias
A cor da areia é de cor avermelhada
Foram sangue derramado, com vítimas fatais.
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Ainda tem marcas de canhão de defezas
E no rosto das pessoas se vê a semelhança
Cuipiranga foi o centro do combate
Matavam sem piedade, os adultos e crianças."

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Galo de "Aruanda"

Crônica de Jose Renato da Costa Oliveira Junior, estudante de Direito da Universidade Federal do Oeste do Para.
Minha ida a comunidade de remanescentes de quilombos do Arapemã residentes no Maicá foi caracterizada por diversos relatos de quilombolas sobre suas lutas pela liberdade, tanto de seus antepassados quanto daqueles que ali estavam.
Primeiramente, fizemos uma oração para que Deus abencoasse a todos os presentes. Após, incidentalmente, comecou-se a falar sobre o chibé ou jacubá, alimento essencial do pescador. Houveram risos descontraidos, adaptando-se às cameras que tudo filmavam.
Um relato antigo, que ja não possuia um dono, para mim foi ícone da sempre viva luta pela liberdade compreendida em todas suas possibilidades. Falou de quando, na época da Cabanagem, após presenciarem um dos seus ser severamente espancado, alguns escravos decidiram fugir embarcando em uma canoa na calada da noite. Após a alcancarem, começaram a remar frenéticamente. O dia começou a raiar, e um galo foi ouvido.
Eles se perguntaram se aquele seria um galo de "aruanda". Alguns disseram que sim, outros que nao. Alguém falou que era o galo do senhor (da senzala).
Triste desventura, puderam ver com a luz do sol que a canoa jamais havia saído do lugar, pois não tinha sido desamarrada da margem do rio.
Subitamente, o senhor surgiu e indagou o que eles faziam ali. Todos emudecidos, foram levados de volta ao cativeiro e duramente castigados.
Um sonho que se transformou em pesadelo, um sonho de liberdade frustrado pelo peso da realidade.
Eis ai a inegável forca dos quilombolas, que ontem e hoje continuam buscando a plenitude de suas existências.
Para finalizar, almoçamos todos na casa de um dos quilombolas e nos despedimos levando um pedaço do passado de nossos anfitriões.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Primeiro dia da Caravana!

Depoimento de Wilverson Rodrigo Silva de Melo, estudante de história da Faculdade Luterana de Santarém:

No último dia 24 deste mês (ontem), a Caravana da Memória Cabana se dirigiu a Vila de Alter do Chão na casa de Dona Dulce no lago do Jacundá com o intuito de registrar e documentar as memórias dos mais antigos. Lá fomos acolhidos com muita hospitalidade pelos moradores da aldeia Borari, em especial o Sr. Maduro, que nos ofereceu um delicioso almoço (galinha no limão/receita do S. Castelo...acho que depois desta devem contratá-lo para cozinhar em São Paulo, estava delicioso de verdade!) Muitos guardiões da memória, como dona Cassemira, dona Zuleide, S. Severino, dentro outros, abriram o seu livro da vida nos revelando histórias da Cabanagem que ouviram de seus pais e avós quando todos estes se reuniam após o almoço na cozinha ou no pátio - espécie de sala das moradias da Amazônia - ou até mesmo na varanda da casa em dias de luar - estes dois são costumes muitos corriqueiros em nossa região - para conversar e contarem sobre os rastros, os mitos, os contos e os mistérios que permeiam em torno dos espíritos protetores da floresta e das águas, inclusive sobre os Cabanos e Legalistas no período da Cabanagem.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ilustradora Cabana

Arte livre expressa onde versos, cores, desenhos, dança e voz se reunem. Performática. buscadora que canta a busca. Estudou artes plásticas, faz parte do coletivo Poesia Maloqueirista, dança e recita seus poemas no projeto Experimento Prosótipo, e na banda Encantadeiras, Aline Binns: intensa multi artista girando os fluxos, intentando a re-união da arte com a espiritualidade, e experienciando seus caminhos. Iniciou e desenvolve o projeto Lailai Só Moýba, que propõe a retomada de valores ancestrais e trazer à tona os absurdos da colonização -ainda em curso- através do estudo das culturas raíz brasileiras: indígenas e africanas. Já nessa caminho, foi convidada a integrar a Caravana da Memória Cabana para acrescentar seus desenhos ao registro proposto. Mas podemos esperar muito mais expressão oriunda dessa vivência, entre letras, cores e corpo. (Texto de Glaucus Noia)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Fotógrafa Cabana

A fotógrafa Karime Rubez descobriu sua paixão depois de uma desilusão. Formada em moda, desencantou-se com a carreira escolhida e soube que seu caminho deveria seguir um rumo diferente. Trocou os lápis, as pranchetas e os desenhos por lentes, luzes e instantes que sua alma desejava registrar. Pós-graduada pela tradicional faculdade paulistana, Belas Artes. Hoje, mais do que fotografar, Karime imortaliza momentos em trabalhos de rara delicadeza e ao mesmo tempo de grande força e expressão visual. Alguns de seus trabalhos podem ser vistos em seu site http://www.karimerubezfotografia.com.br/. Lá você descobrirá o que torna essa paixão de Karime pela fotografia, algo mágico e especial!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Programação da Caravana

21/05/2010 - sexta feira - Chegada dos participantes a Santarém;
22/05- sábado - Reunião de entrosamento e discussão dos objetivos e idéias do projeto. Local: Convento São Francisco;
23/05 - domingo - Início dos trabalhos de registro de depoimentos de pessoas idosas, em Santarém;
24/05 - 2a feira – Alter do Chão;
25/05 - 3a feira – Associação Quilombola, bairro Pérola do Maicá, Santarém;
26/05 – 4ª feira - Início da viagem de barco, com a primeira parada em Cuipiranga, rio Arapiuns;
27/05 - Lago da Praia, rio Arapiuns;
27/05 - Vila Franca, rio Arapiuns;
28/05 - Santo Amaro, rio Tapajós;
29/05 – Pinhél, rio Tapajós;
30/05 - Bragança, rio Tapajós;
31/05 – Retorno a Santarém
01/06 – Avaliação, planejamento das ações de continuidade do projeto e comunicação à imprensa. Despedida.
Nesse plano, ao todo são 10 dias entre a chegada dos participantes e o encerramento dos trabalhos.
Contatos: Prof. Frei Florêncio Almeida Vaz (tel. 093-9903-7674)
florenciovaz@uol.com.br

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Jornalista Cabano


Nicolau Kietzmann é jornalista, firmou-se na área de ecoturismo e hoje tem uma empresa de Assessoria de Imprensa focada na área cultural. Viaja com a Caravana Cabana escrevendo para a Revista Horizonte Geográfico.
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Para conhecer mais sobre o seu trabalho, visite http://www.dgnk.com.br/ e seu blog http://tocadobuck.blogspot.com/

sábado, 1 de maio de 2010

Poesia Cabana

O poema abaixo foi escrito por Carlos Tiago, poeta amazonense, de origem Satarê-Mawé, que participou do II Sarau das Poéticas Indígenas em homenagem à Cabanagem e engajou-se na Caravana Cabana. Tiago é formado em biblioteconomia, tem três livros de poesia publicados (outros dois a caminho) e trabalha na Secretaria de Cultura de Barreirinhas, no Amazonas.
Todas as vozes
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As águas do tempo
Circulam em minhas veias
Memórias de um tempo de luta
De um tempo de sonhos
Tempo de esperanças...
De tiros ecoando nas lembranças
De meus velhos ancestrais.
Cabanas pegando fogo
Coração pulsando forte...
Era o grito da justiça
Ecoando pela floresta
Se misturando ao murmúrio das águas revoltas
Ecoando pelo tempo
Pelos sonhos de igualdade.
É minha pele de homem
É minha cultura de índio
É minha cor de negro
É meu sangue cabano
Que ainda escorre pela vala do tempo
E ensina a lutar por justiça
A igualdade de todas as bandeiras
De todas as vozes
Da nação brasileira.
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ctpoeta@yahoo.com.br

terça-feira, 27 de abril de 2010

Sarau em Homenagem à Cabanagem

Neste dia 24 de Abril, em São Paulo, na Casa das Rosas, localizada na Avenida Paulista, aconteceu o II Sarau das Poéticas Indígenas. Este ano, o evento foi dedicado a Amazônia e a Cabanagem. Dele participaram quatro integrantes da Caravana Cabana (a ala paulistana!). O evento contou com a participação de índios das três etnias que participaram do levante popular: os munduruku, os mura e os mawê. Na foto (da esq para a dir): Juju Mura, Carlos Tiago Saterê-Mawê, Deborah Goldemberg, Leandro Mahalem de Lima e Daniel Munduruku. Cris Burlan, nosso cineasta, fez a cobertura do evento. A assessoria de imprensa e fotos são de Nicolau Kietzmann.

Antropólogo Cabano


Leandro Mahalem de Lima é antropólogo, mestre pela Universidade de São Paulo e pesquisador do NHII, Núcleo de História do Indígena e do Indigenismo. Realizou sua pesquisa de mestrado, Rios Vermelhos, sobre a Cabanagem.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Cineasta Cabano

Cristiano nasceu em Porto Alegre em 1975. É diretor de cinema e teatro. Na década de noventa morou em Barcelona, onde dirigiu o grupo de cinema experimental super-8. Esteve a frente do grupo de teatro a Fúria. Estudou na Academia Internacional de Cinema – AIC, onde atualmente é professor. Realizou diversos filmes, tanto longa metragens quanto curta metragens e documentários. A maior parte de sua filmografia já participou de importantes Festivais, como Festival de Havana, É Tudo Verdade, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, entre outros.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A Cabanagem começou aqui!

O mestre-cantor de folias e do gambá Luiz Cardoso, 68, diz, seguro, que os cabanos eram os próprios moradores de Pinhél: “A Cabanagem começou aqui!”, fala ele apontando para o chão, no terreiro de casa. A partir de uma revolta inicial dos nativos, quando, liderados por Zé Duarte, mataram os comerciantes portugueses e se apoderaram das suas casas e negócios, o conflito se espalhou até para a capital da Província, provocando a reação violenta das tropas legalistas. Não desconsiderando a versão de que a guerra começou em Belém, o importante na frase de Luiz Cardoso é que ela demonstra que os moradores do lugar têm a sua versão para uma história que é sua antes de ser história do Pará ou da Amazônia. E mostra ainda um etnocentrismo e auto-estima que raramente se sente nas falas dessas pessoas. O que está acontecendo em Pinhél?
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Leia da íntegra o artigo de Florêncio Vaz no Encarte sobre a Cabanagem.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Encarte sobre a Cabagem

Lançado no ano passado pela Gazeta de Santarém, o encarte sobre a história da Cabanagem no município chega agora à internet, sendo disponibilizado aos leitores do blog em formato PDF.
Editado pelos jornalistas Manuel Dutra e Celivaldo Carneiro, o material jornalístico é para ler e guardar dado o seu conteúdo riquíssimo, com ilustrações e fotografias raras.
As reportagens e entrevistas estão expostas em 28 páginas, e podem ser copiadas livremente pelos internautas.
Fonte: http://www.jesocarneiro.com.br/
Link pra acessar o caderno
http://www.calameo.com/books/0002154336cb054c09126

domingo, 21 de março de 2010

Fotógrafo Cabano

Clodoaldo Corrêa da Silva é fotógrafo a atuante no movimento indígena. Considerado um talento local em Santarém, PA, cidade aonde vive, já trabalhou no Jornal Gazeta de Santarém (2000-1) e na Revista Rota de Belém (2002-3). Expôs seu trabalho em duas exposições: Quando Fala o Olhar em Outubro de 2002, no Espaço Arte SESC Santarém e no Projeto FIT na Orla _Santarém Ontem e Hoje_ Fotos antigas e atuais _ em Dezembro de 2002. Produziu documentários para a Secretaria Municipal do Município (Arte na Escola da Gente em 2007, Quilombolas do Ituqui em 2008) e para o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia): Oficinas Caboclas do Tapajós em 2008.
Aqui ele está com dona Josefa, uma das mais velhas da aldeia Muratuba, que certamente será uma das nossas entrevistadas durante a Caravana

sexta-feira, 19 de março de 2010

Os primeiros integrantes da Caravana

Florêncio Vaz é frade franciscano e antropólogo e ativista indígena, professor na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em Santarém, pesquisador sobre a história e a cultura da região do baixo rio Tapajós.
Deborah Goldemberg, antropóloga e escritora, conheceu Florêncio Vaz na Reunião da ABA de 2008 em Porto Seguro, BA. Escreveu uma crônica em um post no seu blog sobre um incidente que vivenciaram juntos.
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Em 2009, Florêncio convidou Deborah para integrar a Caravana Cabana, colher as histórias de vida das mulheres descendentes dos Cabanos que vivem às margens dos Rios Arapiuns e Tapajós e, a partir disso, desenvolver textos poéticos ou prosaicos. Abaixo, o convite de Florêncio:
Como as mulheres mais velhas foram as principais responsáveis pelo repasse desta memória rebelde, e foi por causa do que nossas avós nos contaram que hoje sabemos algo da versão dos 'vencidos', penso que ainda da falta ouvir e documentar mais a voz dessas mulheres. E elas estão quase todas morrendo. Que tal você vir aqui, gravar a voz delas? A imagem delas? Disso pode resultar poesias, livros de memórias, documentário... Nem sei. Mas que isso fique gravado para os que virão já seria algo tão maravilhoso. E justo neste momento em que nossa gente se interessa tanto pela sua história, sua origem, sua memória. Você tem uma vontade, ousadia, própria para essa iniciativa.”

segunda-feira, 15 de março de 2010

Imagens Cabanas

Cuipiranga foi o maior reduto cabano depois de Belém. Situada entre os Rios Arapinus e Amazonas, a comunidade tem também dá para o Rio Tapajós, por isso tornou-se uma localidade tão estratégica.
Dali do alto da ribanceira, os rebeldes controlavam quem subia ou descia o Rio Amazonas e quem subia o Tapajós. Ainda hoje, parece que os cabanos ainda estão ali, vigiando a sua liberdade.
Esta é uma das senhoras "tapuias" mais antigas de Cuipiranga.
Esta é uma típica casa coberta de palha em Cuipiranga.
Senhora idosa de Cupiranga nos oferece beiju de mandioca.
(Fotos: Florêncio Vaz)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O quê e porquê?


No ano de 2010 completará 175 anos do início da Cabanagem (e 170 anos do seu fim), a grande guerra quando os indígenas, os negros escravizados e a população trabalhadora amazônica se insurgiu contra os portugueses e os luso brasileiros. Os historiadores consideram que o grosso da guerra ocorreu entre 1835 e 1840, quando os últimos rebeldes se renderam em Luzéa (atual Maués), no Amazonas.
A Cabanagem foi até agora a maior revolta dos povos amazônicos contra a tirania e a dominação. A Cabanagem, nas palavras do historiador Caio Prado Junior (1933) é, “...um dos mais, senão o mais notável movimento popular do Brasil. É o único em que as camadas mais inferiores da população conseguem ocupar o poder de toda uma província com certa estabilidade. Apesar de sua desorientação, fica-lhe contudo a glória de ter sido a primeira insurreição popular que passou da simples agitação para uma tomada efetiva de poder.”
Ainda está forte na memória dos mais velhos as imagens da violência da repressão e do heroísmo dos rebeldes. É visível também a grande cortina de silêncio e desinformação sobre este fato histórico, que certamente foi o mais significativo do ponto de vista da resistência dos povos da Amazônia frente à colonização. A população local, descendente dos próprios cabanos, pouco sabe sobre essa história.
A justificativa deste projeto é retratar esse esquecimento histórico, fazendo uma comemoração memorial deste evento histórico da maior importância que estimule a seguinte reflexão: o que teria sido um Brasil em que os índios, escravos e mestiços tivessem se rebelado contra o colonizador e estabelecido-se no poder de forma efetiva?