Índio Mura

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Galo de "Aruanda"

Crônica de Jose Renato da Costa Oliveira Junior, estudante de Direito da Universidade Federal do Oeste do Para.
Minha ida a comunidade de remanescentes de quilombos do Arapemã residentes no Maicá foi caracterizada por diversos relatos de quilombolas sobre suas lutas pela liberdade, tanto de seus antepassados quanto daqueles que ali estavam.
Primeiramente, fizemos uma oração para que Deus abencoasse a todos os presentes. Após, incidentalmente, comecou-se a falar sobre o chibé ou jacubá, alimento essencial do pescador. Houveram risos descontraidos, adaptando-se às cameras que tudo filmavam.
Um relato antigo, que ja não possuia um dono, para mim foi ícone da sempre viva luta pela liberdade compreendida em todas suas possibilidades. Falou de quando, na época da Cabanagem, após presenciarem um dos seus ser severamente espancado, alguns escravos decidiram fugir embarcando em uma canoa na calada da noite. Após a alcancarem, começaram a remar frenéticamente. O dia começou a raiar, e um galo foi ouvido.
Eles se perguntaram se aquele seria um galo de "aruanda". Alguns disseram que sim, outros que nao. Alguém falou que era o galo do senhor (da senzala).
Triste desventura, puderam ver com a luz do sol que a canoa jamais havia saído do lugar, pois não tinha sido desamarrada da margem do rio.
Subitamente, o senhor surgiu e indagou o que eles faziam ali. Todos emudecidos, foram levados de volta ao cativeiro e duramente castigados.
Um sonho que se transformou em pesadelo, um sonho de liberdade frustrado pelo peso da realidade.
Eis ai a inegável forca dos quilombolas, que ontem e hoje continuam buscando a plenitude de suas existências.
Para finalizar, almoçamos todos na casa de um dos quilombolas e nos despedimos levando um pedaço do passado de nossos anfitriões.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Primeiro dia da Caravana!

Depoimento de Wilverson Rodrigo Silva de Melo, estudante de história da Faculdade Luterana de Santarém:

No último dia 24 deste mês (ontem), a Caravana da Memória Cabana se dirigiu a Vila de Alter do Chão na casa de Dona Dulce no lago do Jacundá com o intuito de registrar e documentar as memórias dos mais antigos. Lá fomos acolhidos com muita hospitalidade pelos moradores da aldeia Borari, em especial o Sr. Maduro, que nos ofereceu um delicioso almoço (galinha no limão/receita do S. Castelo...acho que depois desta devem contratá-lo para cozinhar em São Paulo, estava delicioso de verdade!) Muitos guardiões da memória, como dona Cassemira, dona Zuleide, S. Severino, dentro outros, abriram o seu livro da vida nos revelando histórias da Cabanagem que ouviram de seus pais e avós quando todos estes se reuniam após o almoço na cozinha ou no pátio - espécie de sala das moradias da Amazônia - ou até mesmo na varanda da casa em dias de luar - estes dois são costumes muitos corriqueiros em nossa região - para conversar e contarem sobre os rastros, os mitos, os contos e os mistérios que permeiam em torno dos espíritos protetores da floresta e das águas, inclusive sobre os Cabanos e Legalistas no período da Cabanagem.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ilustradora Cabana

Arte livre expressa onde versos, cores, desenhos, dança e voz se reunem. Performática. buscadora que canta a busca. Estudou artes plásticas, faz parte do coletivo Poesia Maloqueirista, dança e recita seus poemas no projeto Experimento Prosótipo, e na banda Encantadeiras, Aline Binns: intensa multi artista girando os fluxos, intentando a re-união da arte com a espiritualidade, e experienciando seus caminhos. Iniciou e desenvolve o projeto Lailai Só Moýba, que propõe a retomada de valores ancestrais e trazer à tona os absurdos da colonização -ainda em curso- através do estudo das culturas raíz brasileiras: indígenas e africanas. Já nessa caminho, foi convidada a integrar a Caravana da Memória Cabana para acrescentar seus desenhos ao registro proposto. Mas podemos esperar muito mais expressão oriunda dessa vivência, entre letras, cores e corpo. (Texto de Glaucus Noia)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Fotógrafa Cabana

A fotógrafa Karime Rubez descobriu sua paixão depois de uma desilusão. Formada em moda, desencantou-se com a carreira escolhida e soube que seu caminho deveria seguir um rumo diferente. Trocou os lápis, as pranchetas e os desenhos por lentes, luzes e instantes que sua alma desejava registrar. Pós-graduada pela tradicional faculdade paulistana, Belas Artes. Hoje, mais do que fotografar, Karime imortaliza momentos em trabalhos de rara delicadeza e ao mesmo tempo de grande força e expressão visual. Alguns de seus trabalhos podem ser vistos em seu site http://www.karimerubezfotografia.com.br/. Lá você descobrirá o que torna essa paixão de Karime pela fotografia, algo mágico e especial!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Programação da Caravana

21/05/2010 - sexta feira - Chegada dos participantes a Santarém;
22/05- sábado - Reunião de entrosamento e discussão dos objetivos e idéias do projeto. Local: Convento São Francisco;
23/05 - domingo - Início dos trabalhos de registro de depoimentos de pessoas idosas, em Santarém;
24/05 - 2a feira – Alter do Chão;
25/05 - 3a feira – Associação Quilombola, bairro Pérola do Maicá, Santarém;
26/05 – 4ª feira - Início da viagem de barco, com a primeira parada em Cuipiranga, rio Arapiuns;
27/05 - Lago da Praia, rio Arapiuns;
27/05 - Vila Franca, rio Arapiuns;
28/05 - Santo Amaro, rio Tapajós;
29/05 – Pinhél, rio Tapajós;
30/05 - Bragança, rio Tapajós;
31/05 – Retorno a Santarém
01/06 – Avaliação, planejamento das ações de continuidade do projeto e comunicação à imprensa. Despedida.
Nesse plano, ao todo são 10 dias entre a chegada dos participantes e o encerramento dos trabalhos.
Contatos: Prof. Frei Florêncio Almeida Vaz (tel. 093-9903-7674)
florenciovaz@uol.com.br

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Jornalista Cabano


Nicolau Kietzmann é jornalista, firmou-se na área de ecoturismo e hoje tem uma empresa de Assessoria de Imprensa focada na área cultural. Viaja com a Caravana Cabana escrevendo para a Revista Horizonte Geográfico.
.
.
Para conhecer mais sobre o seu trabalho, visite http://www.dgnk.com.br/ e seu blog http://tocadobuck.blogspot.com/

sábado, 1 de maio de 2010

Poesia Cabana

O poema abaixo foi escrito por Carlos Tiago, poeta amazonense, de origem Satarê-Mawé, que participou do II Sarau das Poéticas Indígenas em homenagem à Cabanagem e engajou-se na Caravana Cabana. Tiago é formado em biblioteconomia, tem três livros de poesia publicados (outros dois a caminho) e trabalha na Secretaria de Cultura de Barreirinhas, no Amazonas.
Todas as vozes
.
As águas do tempo
Circulam em minhas veias
Memórias de um tempo de luta
De um tempo de sonhos
Tempo de esperanças...
De tiros ecoando nas lembranças
De meus velhos ancestrais.
Cabanas pegando fogo
Coração pulsando forte...
Era o grito da justiça
Ecoando pela floresta
Se misturando ao murmúrio das águas revoltas
Ecoando pelo tempo
Pelos sonhos de igualdade.
É minha pele de homem
É minha cultura de índio
É minha cor de negro
É meu sangue cabano
Que ainda escorre pela vala do tempo
E ensina a lutar por justiça
A igualdade de todas as bandeiras
De todas as vozes
Da nação brasileira.
.
ctpoeta@yahoo.com.br