Índio Mura

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Impressões sobre a Caravana da Memória Cabana

Texto escrito por José Renato da Costa Oliveira Júnior, acadêmico de Direito da UFOPa.

Algumas semanas e as minhas memórias começaram a se solidificar e se reconstruir, como diria nosso querido antropólogo "cabano" Leandro, e aqui estou escrevendo mais uma vez. Interessante pensar que elas sempre terão plasticidade, podendo se modificar e se agrupar com outras, incontáveis vezes. Claro, eu ter entrado de férias e ter conseguido um computador com internet contribuiu crucialmente para que após esse aparente hiato esse texto esteja aqui.
Convido também todos os participantes a escreverem! Registremos o que vivemos, antes que a memória se esvaia ou o interesse finde! xD
O que permaneceu forte em minhas lembranças após o retorno para Santarém, do que acredito ser apenas a primeira parte de um projeto que ainda vai crescer e ramificar - como as mudas de plantas de foram dadas de presente as duas figuras icônicas do projeto, seja por ter sido um o principal idealizador e tornador em realidade do que era apenas um sonho, seja pelo outro ter inevitávelmente cativado a todos - foi o estilo de vida de populações que tem sua história atrelada a uma sempre presente luta por seus direitos, sejam os quilombolas, sejam os indígenas e ribeirinhos. Um espírito de luta que se personifica quando ouvimos discursos engajados e conscientes sobre pelo que se tem que lutar.
Paralelamente a isso, fui cativado pelo espírito de cordialidade e generosidade dos que nos receberam. Abro um espaço para agradecer pelo presente que a dona Teresa, mãe do cacique Enoque, de Vila Franca me deu. Foi algo tão espontâneo e de coração, que desde já fica como a memória pela qual eu tenho mais carinho. Parando pra pensar sobre isso, imagino justamente toda essa hospitalidade não foi um dos porquês de tantos indígenas terem sucumbido na mão de estrangeiros, tantos séculos atrás.
Nosso povo é bom de coração, na sua origem, na sua fonte. Talvez pela diversidade que sempre existiu em nossa região, com aldeias indígenas que eram universos completamente heterogêneos entre si, em seus costumes e tradições. Uma colcha de retalhos multicultural.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Frutos da Caravana da Memória Cabana

Texto escrito por José Renato da Costa Oliveira Júnior, acadêmico de Direito da UFOPa.

Das diversas idéias que surgiram dentro da Caravana da Memória Cabana, uma delas foi a de criar um Grupo de Assessoria Jurídica aos Povos Tradicionais do Baixo Tapajós, pensada pelo Leandro (Antropólogo) e endossada pelos alunos do curso de Direito da Universidade participantes do projeto.
Interessante pensar que, talvez obra do destino, arquitetada pelas almas dos cabanas que jazem na região e seus clamores que ecoam pelo tempo e espaço, ao voltar para Santarém, em uma reunião do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Universidade , foi posta em pauta a criação do NAJUP (Núcleo de Assessoria Jurídica Popular). Caiu como uma luva na idéia de criação do grupo de assessoria jurídica, pois perfeitamente poderia existir como parte especializada dentro do NAJUP.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Depoimento de Florêncio Vaz

A experiência da Caravana Cabana foi fantástica, e superou em muito as minhas expectativas e as dos outros participantes. Minha avaliação foi que tivemos um sucesso total em relação ao nosso projeto inicial, que era recolher relatos sobre a Cabanagem para produzir documentários, livros, fotos etc. O material foi colhido.
Visitamos nove comunidades ou grupos, incluindo o encontro com quilombolas em um bairro de Santarém. Temos agora um arquivo de quase 50 horas de entrevistas em vídeo e outras tantas em áudio, o que já constitui seguramente o maior arquivo do tipo sobre as memórias da Cabanagem no Oeste do Pará. Aproximadamente 80 pessoas de diferentes comunidades deram seus depoimentos. As fotos captaram rostos, expressões e paisagens lindas. As anotações feitas pelos membros da Caravana ainda vão dar muitos frutos.
Digo que o resultado foi um sucesso total quando me refiro aos profundos impactos que a CARAVANA provocou nos moradores das comunidades visitadas e seus vizinhos, que acorreram aos locais para nos encontrar e que ficaram estimulados a lembrar e recontar suas histórias, mitos e sonhos. Sem contar que as pessoas aproveitaram o momento para mostrar danças tradicionais, bebidas e beijus, para fazer fogueiras e rituais. Falar da Cabanagem para eles é falar e vivenciar o seu "modo de vida total", incluindo o tarubá, o xibé e a comida coletiva.
Mesmo moradores de lugares que não foram visitados pela Caravana se interessaram e seus moradores chegaram a alguns dos locais por onde passamos. Outras comunidades mais distantes passaram a olhar com mais atenção para a cabanagem e o seu papel na história regional. Eles estão falando mais das suas lembranças sobre o seu passado. E aguardam a sua oportunidade de também contar as suas histórias.
Na cidade de Santarém, a mídia local deu bastante espaço para a Caravana, e vários caravanistas falaram da importância dessa guerra para a história da Amazônia e até do Brasil. A Rádio Rural promoveu um “debate” somente sobre a Cabanagem e a Caravana. Certa vez, antes de entrevistas os “paulistas”, uma repórter perguntava “por que pessoas vêm de São Paulo em busca das memórias da cabanagem, enquanto os moradores daqui mesmo não se interessam?” Certamente, depois dessa provoção muitos começaram a se interessar.
A viagem também provocou impactos nos participantes da Caravana, paulistas e paraenses. Todos voltamos aos nossos mundos transformados e envolvidos nessa ambiência da vida do povo do interior da Amazônia, sejam eles negros, indígenas, ribeirinhos ou outros. Por isso, o grupo decidiu dar continuidade ao projeto coletivo. Os frutos não demorarão. Na verdade já estão aí.
No coração, a saudade das pessoas simples e acolhedoras, dos seus sorrisos e dos seus abraços. Não tem como evitar. NÓS VOLTAREMOS, E SEREMOS MAIS. VOLTAREMOS E SEREMOS MUITOS, MILHARES, POIS NÓS SOMOS OS CABANOS(AS) VIVOS DE HOJE, E AINDA ESTAMOS DE PÉS.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Olho do Infinito

Crônica de José Renato da Costa Oliveira Júnior, acadêmico da UFOPa.

Viemos todos, de diversos cantos.
Nos unimos. Porque?
Havia a pergunta, e no início era apenas o que havia.
Respiramos fundo, mergulhamos, mãos dadas, olhos abertos.
Encontramos a escuridão, ela nos cumprimentou.
Olhamos e vimos ao longe uma chama pequena, tímida, convidativa.
Fomos mais fundo e a pequena chama se agigantou.
Pisamos no chão agora frente a frente com a claridade.
Pudemos ouvir passos, o baque surdo de pés no chão. Sentir gostos, amargos, doces, ancestrais.
Ao nosso redor, vultos, movimentos, mãos e pés, pinturas no corpo. Expressões sendo delineadas.
A Floresta envolveu-nos. Nos ninou em seus fortes braços, disse para não termos medo.
O Silêncio então se fez, e O Passado se abriu através das chamas.
Havia algo ali. Vozes. Aqueles que se foram.
Correntes quebradas, sonhos de "Aruanda".
Uma canoa na beira do rio. Ela jamais veria seu dono novamente.
Flechas quebradas.
Havia a memória, e enfim aqueles que a ouviriam.

Sobre as ondas...

A bordo do barco Celestial, a equipe da Caravana da Memória Cabana viajou pelos Rios Tapajós e Arapiuns e também realizou as chamadas "rodas de troca." Fotos de Clodoaldo Corrêa.

Equipe Cabanagem em Ação

Esta é parte da equipe da Caravana Cabana em ação, em Alter do Chão, junto à alguns comunitários.
Foto de Karime Rubez.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Recepção alegre em Cuipiranga

A Caravana da Memória Cabana, no seu terceiro dia de atividades (e já abordo do barco Celestial) foi alegremente recebida por moradores de Cuipiranga, com uma canção de Sr. Coruja, um líder local:
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"A Caravana, vamos saudar
Sejam benvindos, neste lugar
E nesta terra podem pisar
Estamos prontos, para abraçar.
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Você realmente quer saber
O que aconteceu, há muitos anos atras
O movimento, chamado Cabanagem
foi a revolução publicada nos jornais.
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Um dos sinais, foi a igreja construída
feita com barro e pedra, so tem as laterias
A cor da areia é de cor avermelhada
Foram sangue derramado, com vítimas fatais.
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Ainda tem marcas de canhão de defezas
E no rosto das pessoas se vê a semelhança
Cuipiranga foi o centro do combate
Matavam sem piedade, os adultos e crianças."