Índio Mura

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Reminiscências de uma viagem a um Brasil profundo

Depoimento de Cris Burlan, cineasta cabano:
Passado um mês da experiência de ter participado da Caravana da Memória Cabana, busco não filtrar as impressões e sensações ocorridas durante o trajeto, as experiência adquiridas e afins.
Minha memória, antes de mais nada, é olfativa, e através das lembranças de todos os aromas e cheiros, consigo reconstruir uma partitura do que foi essa viagem.
O desafio de resgatar, através do audiovisual, este acontecimento tão distante e marcante da historia brasileira, e tão pouco conhecido, se dá no campo do imaginário coletivo.
As possibilidades são muitas de se deixar levar por devaneios estéticos e científicos, mas ir por este caminho me levaria a uma estrada sem fim.
Acredito piamente no poder do cinema como uma arte epifânica e catártica. Por mais que eu queira domar/controlar/conduzir/manipular o material captado, isso seria impossível. Não tenho controle sobre isso, todas as imagens, depoimentos e sons captados, durante nossa viagem, tem vida própria.
Quando se está por trás de uma câmera, não existe a plena consciência do objeto ao qual você direciona a mesma. As lentes são filtros da realidade.
Só agora tenho noção da profundidade e diversidade do material captado, neste momento que me encontro na montagem - que é um processo dialético e reflexivo , onde o grande perigo é o do encadeamento lógico. Há que se resistir, e ter uma disciplina espartana, para que as coisas se estruturem naturalmente.
Me chama muito a atenção, não somente os diálogos e os depoimentos, muitas vezes comoventes, mas a expressão e uma certa melancolia, que exprimem esses rostos que fotografei durante a viagem.
Tenho uma certa obsessão pela busca de uma expressividade no tempo morto, e no extra-campo. E, principalmente, naquilo que não pode ser dito, nem fotografado. Creio que nesses espaços vazios, onde deixamos de perguntar e falar, é que reside a tecitura de um filme.
Devaneios a parte, o que eu quero dizer é que agradeço muito por ter participado da Caravana da Memória Cabana, e de ter conhecido todos os integrantes, e todas as pessoas que encontramos durante nossa viagem. Com certeza, uma passagem da minha vida, que vou guardar com muito carinho até o fim dos meus dias.
Ninguém navega impune nas águas do Rio Tapajós.
PS.: Sinto saudades de beber um Tarubá, e dançar ao som do Gambá!!!