Nos últimos dias 21, 22 e 23 de Junho aconteceu na Universidade Federal do Oeste do Pará, o VII Encontro da Cabanagem, edição especial de Santarém. Em comemoração aos 356 anos de Santarém ocorreu as rememorações dos 182 anos da Cabanagem no Grão-Pará.
Por ser uma
temática da História Social do Brasil que ainda precisa ser mais esmiuçada e
historicizada é, que este VII Encontro da Cabanagem se propôs a contribuir com
a historiografia do Brasil e da Amazônia, ao rediscutir e analisar a Cabanagem
no Baixo Amazonas – e suas implicações nos campos social, cultural e
educacional – a partir de outros deslocamentos analíticos e releituras de
diferentes fontes de pesquisa, no âmbito da Historiografia, da Memória e da História.
Cabe ressaltar que o evento estava vinculado a disciplina "História da
Amazônia e da Educação" do Programa de Educação/UFOPA.
DIA 21/06/17 LOCAL: Mini Auditório HA1
18:00 -
Credenciamento
18:30 – Abertura
do Evento:
Ritual Indígena (Pajé Paulinho Borari)
18:50 – Composição
da Mesa de Abertura
Profª. Dra. Raimunda Nonata Monteiro (Reitora da UFOPA)
Prof. Dr. André Dioney Fonseca (Representando a Direção do ICED)
Profa. Dra. Eleny Brandão Cavalcante (Vice Coordenadora do Curso de Pedagogia/UFOPA)
Prof. MsC. Wilverson Rodrigo Silva de Melo (Coordenador do Evento)
19:30 – Mesa
Redonda: A Cabanagem no
Baixo Amazonas: interseções entre a História, a Memória e a Historiografia.
Prof. Dr. Florêncio Almeida Vaz (PAA/ICS/UFOPA)
Prof.ª MsC. Antonia Terezinha Amorim (IHGTap)
Mediadora: Profª. MsC.
Isabel Teresa Creão Augusto (PCH/ICED/UFOPA)
IMPRESSÕES DO DIA
Ao som de músicas e ritual indígena, o pajé Paulinho Borari deu início a abertura do evento. Com um discurso de reafirmação étnica e rememorando as lutas de seus antepassados durante a Revolução da Cabanagem, o pajé dispersou fumaça de Tauari, na perspectiva de abençoar o evento e fazer memória de todos os cabanos que lutaram bravamente em meados de 1835.
Após o ritual, as palavras da Reitora Raimunda Nonata Monteiro comoveram e impressionaram a todos, especificamente quando a mesma se autodeclarou Kumaruara, dizendo que veio da região da etnia Kumaruara, onde as histórias da Cabanagem sempre foram muito presentes, até mesmo nas denominações de vilas como "Forca".
Na mesa redonda, as contribuições do antropólogo indígena e indigenista Prof Dr. Florêncio Almeida Vaz e da historiadora Prof. MsC. Terezinha Amorim foram enriquecedoras, principalmente ao relatarem sobre as memórias indígenas e ribeirinhas sobre a Cabanagem e sua relação com as documentações da época. Com a mediação da Profa MsC Isabel Creão, as conotações da mesa giraram entorno de incentivar novos pesquisadores e estudantes a se debruçarem sobre esta temática tão relevante para a História da Amazônia.
Cabe ressaltar que no primeiro dia esteve a venda a Revista do IHGTap ano 2016, edição especial que trouxe somente artigos referentes a Cabanagem no Baixo Amazonas.
Cabe ressaltar que no primeiro dia esteve a venda a Revista do IHGTap ano 2016, edição especial que trouxe somente artigos referentes a Cabanagem no Baixo Amazonas.
OBS: Ao fim do primeiro dia houve sorteio de dois livros sobre a temática da Cabanagem.
DIA 22/06/17 LOCAL: Mini Auditório HA1
18:00 - Credenciamento
18:00 – Exibição
do Filme Documentário
“Revolta dos Cabanos" do cineasta Renato Barbieri.
19:00 – Apresentação do Livro “Tempos de
Revoltas no Brasil Oitocentista: ressignificação da Cabanagem no Baixo Tapajós
(1831-1840) ”
Autor: Prof.
MsC. Wilverson Rodrigo Silva de Melo (PE/ICED/UFOPA)
Mediador: Prof. Dr. Karl
Heinz Arenz (IFCH/UFPA - PCH/ICED/UFOPA)
21:00
–
Coquetel de Lançamento do Livro
IMPRESSÕES DO DIA
Com a exibição do vídeo documentário de Renato Barbieri produzido para a TV Escola, o público pode ter uma melhor percepção historiográfica e antropológica. No documentário, vários historiadores e antropólogos renomados da região Norte do Brasil, com mais de 10 anos de estudos sobre a História Indígena, História da Cabanagem e História dos Mocambos na região amazônica, puderam contribuir ao compartilhar suas impressões e pesquisas sobre a Revolução da Cabanagem e, os diferentes sujeitos sociais envolvidos, principalmente os Mundurukus, Muras, Maytapus, Tupinambás, dentre outros.
Registramos a presença de alunos do DAAIN (Diretório Acadêmico de Alunos Indígenas), do coletivo de alunos quilombolas e de comunitários de Cuipiranga no dia do evento em que também se comemorou os 356 anos de Santarém.
Logo em seguida houve a apresentação e lançamento do Livro “Tempos de
Revoltas no Brasil Oitocentista: ressignificação da Cabanagem no Baixo Tapajós
(1831-1840) ” do Prof.
MsC. Wilverson Rodrigo Silva de Melo (PE/ICED/UFOPA). Cabe ressaltar que o historiador Wilverson Melo é um dos grandes nomes do campo da História que envereda pelos estudos da Cabanagem a quase uma década. A obra é fruto de sua dissertação de Mestrado defendida da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com algumas modificações e suplantação de capítulo.
O livro traz o Prefácio assinado pelo antropólogo Prof. Dr. Mark Harris da Universidade de Saint Andrews no Reino Unido. Mark que morou na região amazônica e pesquisa a Cabanagem a mais de 15 anos, é sem dúvidas hoje uma das maiores autoridades no estudo da Cabanagem fora do Brasil e, trouxe substanciais contribuições para a compreensão da temática da Cabanagem ao fazer dialogar antropologia e história, principalmente no que tange ao estudo das etnias indígenas presentes na Revolução.
O livro também traz textos de capas da Profa. Dra. Isabel Guillen (UFPE) e da Profa. Dra. Hebe Mattos (UFF). Ambas são grandes nomes da Historiografia brasileira contemporânea, sendo a última uma das mais renomadas autoridades no campo da História Moderna e Contemporânea do Brasil.
Com a mediação do Prof. Dr. Karl Arenz da UFPA/UFOPA, sem dúvidas um dos grandes historiadores da História do Indigenismo e História Colonial da Amazônia, alguns pontos da obra foram destaques:
- A obra traz uma perspectiva de Longa Duração, fazendo contextualização desde a Política do Diretório Pombalino (1750) até os últimos murmúrios de Cabanagem em documentações encontradas pelo autor (1845)
- A obra não traz apenas uma abordagem regional, mas também faz fortes relações e interseções com o contexto nacional e internacional no Oitocentos
- A obra desmitifica a ideia de uma Amazônia Isolada e vista apenas como um Paraíso Luso e passa a discutir a tese de uma Amazônia Insurgente desde os tempos coloniais e com fortes relações comerciais com Mato Grosso, Goiás, e relações sociais com a América Espanhola e América Francesa e contributos da Revolução Americana.
- O livro faz uma grande discussão da desconstrução histórica do termo "cabano" e traz novas prospecções a respeito da imposição deste termo e sua apologia pejorativa
- O livro não polariza as visões maniqueístas entre bons e maus, bandidos e heroís, mas tenta historiografar os múltiplos lados na guerra: tropas cabanas, tropas anticabanas, grupos de terceiros como os de Jacó Patacho.. e rechaça o uso do termo "Legaes" para designar as tropas repressoras do governo Regencial
- Outra grande contribuição da Obra é trazer para discussão a questão étnica indígena e negra na época da Cabanagem, no sentido das etnicidades estarem em completa construção e reconfiguração. A partir de documentações do APEP (Arquivo Público do Estado do Pará) e das polarizações de Veríssimo da obra de Raiol, o livro de Wilverson Melo traz ao debate as invenções e rotulações de "cabano" e "tapuio" feitos pelo "outro" (colonizador e tropas da Regência).
- A obra faz uma uma convergência entre documentações de época e a pós-memória numa guinada subjetiva, no sentido de registrar "histórias" da Cabanagem de moradores de Cuipiranga, de indígenas do Baixo Tapajós (Arapium), de quilombolas remanescentes de Arapemã e etc.
Ao
término do evento no dia, foram sorteados 2 livros e 3 cd's para os
participantes. Logo após a apresentação do Livro, todos foram convidados para um coquetel na sala H104, ao lado do Mini auditório HA1.
NOTAS:
- O livro teve seu Pré-Lançamento na Universidade de Évora no dia 17 de maio, tendo sido bem acolhido pelos pares portugueses.
- A invenção do termo cabano está associada a estratégia de homogeneizar todos aqueles indistintos algozes
- O termo também é uma designação oriunda das tropas repressoras que foram transladadas da Cabanada
- A invenção está ligada a outras variáveis que estão contidas na Obra.
- As documentações do APEP e as polarizações de Veríssimo nos fazem compreender que existiam rusgas entre índios e tapuios, sendo que os índios "bravos" escarneciam e não suportavam serem comparados aos tapuios (categorização inventada para rotular todos os indígenas aldeados e "mansos" nas missões).. Logo os termos "cabano e tapuio" não são categorias étnicas feitas de si para si, antes são imposições de termos classificatórios no sentido de homogeneizar a muitos que lutaram na época da Cabanagem
- Na Revolução da Cabanagem, muitas etnias estiverem presentes em ambos os lados. A Revolução é conhecida pela multiplicidade de sujeitos partícipes, entre os quais podemos citar: negros mocambeiros do Rio Amazonas, do Rio surubiú, da cachoeira porteira, do Rio Trombetas, do Rio Curuai, da etnia Munduruku, da etnia Tupinambá, da etnia Mura, da etnia Maytapu, da etnia Borari, da etnia Arapyum, da etnia Kumaruara, de brancos desertores, dentre outros.
DIA 23/06/17 LOCAL: Mini Auditório HA1
19:00 – Mesa
Redonda: Pesquisas
sobre a Cabanagem na UFOPA: Novas perspectivas e possibilidades de
Estudo.
* Contexto
Educacional em Santarém no Pós- Cabanagem (180-1850)
Cláudia Karolina Sousa Godinho (Graduanda em Pedagogia
pela UFOPA)
* Crimes Cabanos no Baixo Tapajós (1835-1840)
Fabíola Caroline Siqueira Araújo (Licenciada em
História pela UFOPA)
* Arqueologia da Cabanagem no Baixo Tapajós
Ingo Ian Rodrigues Nepomuceno (Bacharel em Arqueologia
pela UFOPA).
* Educação Indígena, Histórias e Memórias da Cabanagem em Pinhél
Suerley
Mendes Parintins (Graduando em Pedagogia pela UFOPA)
Mediador: Prof. MsC.
Wilverson Rodrigo Silva de Melo (PE/ICED/UFOPA)
ENCERRAMENTO: Prof. Dr. Anselmo
Alencar Colares (Vice Reitor da UFOPA)
Prof. MsC. Wilverson Rodrigo Silva de Melo (Coordenador do Evento)
21:00
– Noite Cultural:
Roda de Carimbó e Mistura de ritmos - LOCAL: Patifão)
* Grupo
Carimbatuque
* Cristina Caetano
IMPRESSÕES DO DIA
Montada como uma Banca especial, os trabalhos apresentados no dia 23/06 são frutos de acadêmicos da ufopa que estão desenvolvendo e/ou já concluíram recentemente suas pesquisas no campo da Cabanagem.
Fazendo abordagens sobre a dimensão pedagógica e reorganização da educação no Pós Cabanagem, a acadêmica Claudia Karolina expôs sua pesquisa em andamento na qual busca fazer uma convergência entre a Instrução Pública e História Social da Amazônia.
Com pesquisas mais consolidadas e já concluídas, os egressos da ufopa Fabíola Caroline e Ingo Ian, compartilharam suas pesquisas oriundas de prismas diferentes. Fabíola expôs a temática de processos crimes e de justificação da época da Cabanagem em Santarém, a partir de documentações recentes do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, comarca de Santarém. Já o arqueólogo Ingo, compartilhou a interseção das técnicas e métodos da Arqueologia no prisma da Cultura Material e Ambiente com a Historiografia mais recente sobre Cabanagem na região.
Outra grande contribuição da mesa foi do acadêmico Suerley Parintins, aluno indígena do Curso de Pedagogia, pertencente a etnia Maytapu. Suerley expôs parte de sua pesquisa em andamento, onde busca dialogar história e memórias da Cabanagem em Pinhel com a educação escolar indígena naquela aldeia/comunidade. Em sua apresentação, o aluno indígena reforça as discussões nos documentos de época e das memórias dos mais antigos sobre o silenciamento e o processo de identidades negadas aos povos indígenas do Baixo Tapajós, que durante anos foram rotulados como silvícolas, povos tradicionais, ribeirinhos e tapuios. Nessa mesma perspectiva, Suerley imprime o diálogo sobre o processo de reelaboração cultural e reafirmação étnica que teve início no fim do século passado e que iniciou a reafirmação de etnicidades dos povos do Baixo Tapajós.
Ao fim das discussões a mesa de alunos foi desfeita, e o evento teve contribuições de encerramento por meio de um diálogo entre História e Educação, a partir das assertivas do Vice Reitor da Ufopa Prof. Dr. Anselmo Colares e do Prof. MsC. Wilverson Melo, coordenador do evento.
Ao término do evento, foram sorteados 2 livros e 2 cd's para os participantes e 5 livros para os alunos membros da comissão organizadora. Logo em seguida, todos foram convidados a prestigiar a apresentação cultural de Carimbó com o Grupo Carimbatuque.
Nota Explicativa:
Sendo o termo “Tapuio” um termo
genérico para homogeneizar todos os povos indígenas no período da Cabanagem até
o fim do século XX, podemos afirmar que o Pajé Paulinho Borari e o acadêmico
Suerley foram protagonistas do VII Encontro da Cabanagem na condição de
“tapuios”. Entretanto, como a reafirmação e autoreconhecimento étnico são
subjetivos e históricos, os mesmos atores sociais, no evento discursaram que
reconhecem sua etnia e rechaçam o termo tapuio atribuído pelo “outro”.
A cabanagem não teve só um povo
ou etnia protagonista, mas sim várias bandeiras e multiplicidades de sujeitos
envolvidos. Dizer que um povo ou uma etnia foram mais importantes e os
verdadeiros protagonistas da Revolução da Cabanagem, antes de ser um grande
equívoco, mostra a ignorância e falta de fundamentação historiográfica e
antropológica sobre o Oitocentos e o contexto da Revolução...
É por tais atitudes de
desconhecimento e ignorância que a mais de uma década pesquisadores renomados
de diferentes instituições universitárias da região Norte e do Reino Unido
(UFPA, UFOPA, UFAM, UEA, IFPA, Univ. Saint Andrews) tem trabalhado no sentido
de descontruir estereótipos e conceitos que foram impregnados pelo colonizador
e tropas repressoras no período colonial e imperial do Brasil... Nesse sentido,
esperamos que nossas produções cinematográficas e acadêmicas possam propiciar maior
compreensão sobre o Brasil Oitocentista.