Índio Mura

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Uma ótica sobre o II Encontro da Cabanagem em Cuipiranga - Santarém, 06-08/01/12

Wilverson Rodrigo S. de Melo - Pesq. de História da Amazônia
Mística e emoções. É assim que podemos definir o II Encontro da Cabanagem.

A chegada dos caravanistas na comunidade de Cuipiranga - último reduto organizado de resistência cabana no Grão-Pará - foi marcada por uma recepção dos comunitários com a manifestação cultural do Marambiré e posteriormente seguimos para apresentações e interações com os residentes da comunidade no barracão comunitário.
A tarde deu-se início as discussões e provocações quanto a Revolução Cabana entre a comitiva caravanista juntamente com a comunidade. Na ocasião foram levantados muitos questionamentos tais como: a participação da mulher na Cabanagem; as andanças do Cônego Batista Campos pelo Baixo Amazonas; implicações desta revolução com a matriz de identidade amazônida; quais as relações do retrospecto histórico cabano com as  lutas dos amazônidas na atualidade. Todos estes temas alimentaram um proveitoso debate e roda de conversa com respeito a Guerra da Cabanagem, tornando-se um momento ímpar deste Encontro.
Ao cair da noite, fora exibido na comunidade dois filmes documentários de curta duração: "Caravana da Memória Cabana" imagens de Florêncio Vaz e edição de Ramom; e "Memórias cabanas" do cinegrafista santareno Clodoaldo Corrêa... na ocasião, a própria comunidade pode vislumbrar-se como protagonista deste acontecimento histórico.
Mas sem dúvida o dia 7 de janeiro (sábado) fora o dia mais marcante - seja por ter sido a data marco da 1ª tomada de Belém pelos Cabanos - os caravanistas juntamente com comunitários caminharam por uma das trilhas utilizadas pelos cabanos na época para manter comunicação com os postos de resistência do lado de Cuipiranga do Amazonas, bem como para imprimir fuga das tropas anti-cabanas. A caminhada iniciou-se com uma forte mística transcedental, que levou-nos a refletir sobre a luta, o cotidiano, os desafios e perspectivas dos cabanos da época, fora um momento muito emocionante marcado pela honra e memória ao sangue dos cabanos derramado em prol de um ideal, posteriormente dada a caminhada, a comitiva visitou a Vila do Guajará e a Vila Amazonas,onde fomos muito bem recepcionados e convidados a almoçar peixe assado e calderado do mesmo. Em regresso a Cuipiranga do Tapajós, ao cair da noite vislumbramos o filme longa metragem "O Cônego - Senderos da Cabanagem" do cineasta Paulo Miranda, no qual pudemos observar as lutas de Batista Campos e militantes no Grão-Pará pré 1835.
Mas como fora mencionado no início, este II Encontro fora marcado pelo místicismo e emoções, creio que momentos como o debate e discussões, a mística da caminhada da trilha dos cabanos, as rodas de conversa que vararam madrugada a fora do dia 7 para o dia 8, como também a mística no cemitério dos cabanos ocorrida na manhã do dia 8 de janeiro de 2012, foram acontecimentos marcantes que entraram para a história de Cuipiranga e até mesmo dos caravanistas - que eram um grupo muito diverso, sendo composto de cantores, estudantes, professores, vereador, sindicalistas, militantes sociais, pesquisadores, antropólogos, representantes de organizações governamentais e não-governamentais, cineasta, ator, etc.
Toda a mística em rememorar os acontecimentos e a luta dos cabanos está no sentido de honrar suas lutas e seus sacrifícios em prol de um ideal e melhoria de vida de suas gerações futuras - nós -, como a passagem bíblica em 2 Timóteo 4:7, menciona "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé"...estes nossos antepassados cabanos travaram sangrentos combates, morreram pela causa, agora cabe a cada um de nós perpassar essas memórias e militar em favor de melhorias de vida de nosso povo contra a política neoliberal que tenta dizimar a cultura e identidade amazônida por meio da opressão cultural e subalternidade da dignidade do povo da Amazônia.
Há muito tempo o silêncio paira sobre o ecossistema amazônico, chegou o momento de descortinarmos os fatos e acontecimentos esquecidos, suplantados e ocultados a sociedade brasileira, especificamente a amazônida, pois tão certo como torna-se um delito grave tirar a vida de alguém, muito mais grave é manter o exímio esquecimento de nossa história e de seus mártires, pois um povo sem memórias é um povo sem história, logo torna-se um povo apático, alienado quanto a sua origem.
Então precisamos focar nossa visão no futuro, pois é certo que "ao visitar o futuro percebemos que este é perfeito e agradável;no entanto, para que permaneça assim, faz-se necessário saber de onde viemos, cultivar o nosso presente para então projetar este tão sonhado e simétrico futuro" (Wilverson Rodrigo S. de Melo - pesquisador de história da Amazônia).
Este é o momento de fazermos a diferença, de nos impormos e tentar se não reescrever ao menos ressignificar nossa história.... Saiamos do comodismo e tornemo-nos protagonistas de nossa história, que céus e terra sejam nossos testemunhos, que o tempo seja nosso papel e nossas atitudes e ações o tinteiro responsável por escrever no tempo o memorial de nossa vida, "pois o homem é filho de seu tempo". (BLOCH, Marc. Apologia da História ou ofício do Historiador).

VIVA A CABANAGEM!!!
A REVOLUÇÃO CABANA NÃO MORREU, NÓS SOMOS OS NOVOS CABANOS!!

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