Pesquisa
científica
|
|
G.
Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
|
|
PROSPECÇÕES E DISCUSSÕES ACERCA DO SUJEITO E USO
DO TERMO “CABANO"
|
|
Wilverson Rodrigo Silva de Melo¹
Flávio Weinstein Teixeira²
|
|
INTRODUÇÃO:
|
O
tratamento dispensado aos revoltosos do Grão-Pará é proveniente de uma grande
carga ideológica e pejorativa. O historiador Domingos Raiol Alcunhava-os de
“classe ínfima, anarquistas”; o Pe. Sanches de Brito intitulava-os de
“demônios”. Todavia, o nome marcante e que perpetuou-se fora “cabano”. Neste
limiar, é que os estudos voltados à pesquisa sobre a Cabanagem, tem se
mostrado uma tarefa escorregadia e movediça, na medida em que torna-se árdua
o consenso entre historiadores que debruçam-se sobre as discussões acerca da
Revolução-revolta, do sujeito e do uso do termo “cabano”. Diante desta
complexidade historiográfica é que este trabalho visa discutir e esclarecer
as alcunhas e nomenclaturas (critérios classificatórios, portanto) adotadas
“para” e “pelos” cabanos, as quais encontram-se amalgamadas nas tessituras
historiográficas da História Social da Amazônia por meio de um discurso ideológico
e aristocrático, quase que numa penumbra, sob uma cortina de silêncio.
|
|
OBJETIVO DO TRABALHO:
|
Levantar
as denominações (vale dizer, os critérios classificatórios dos sujeitos
sociais) utilizadas pelas tropas legalistas para designar os “revoltosos” e
sua relação ideológica de subalternidade; Analisar a reação e a posição do
“cabano” diante das denominações impostas a ele.
|
|
MÉTODOS:
|
Este
trabalho fora desenvolvido a partir de levantamentos e análises documentais
do Arquivo Público do Estado do Pará (APEP) dos quais foram selecionados e
reunidos parte dos documentos datados de 1833-1854 (versão digitalizada), a
saber: Relatórios dos Ministérios do Império, da Marinha, da Guerra, da
Fazenda e da Justiça; Relatórios e Leis provinciais do Grão-Pará e anúncios
do Jornal Treze de Maio de 1840. Também fora desenvolvido a pesquisa
bibliográfica e debate historiográfico entre pesquisadores que abordam a
temática tais como: Basílio de Magalhães, Luís Gonzaga Duque, Domingos
Antonio Raiol, Arthur C. F. dos Reis, Leandro M. Lima, Luís Balkar S. P.
Pinheiro; como também uma fundamentação teórica com pesquisadores que abordam
temas como identidade, simbolismos e Cabanada em Pernambuco, a saber: Stuart
Hall, Mircea Eliade e Marcos J. M. de Carvalho, respectivamente. Além de
relatos de entrevistas audiovisuais e conversas informais (História Oral,
transcritos no texto por meio de seus sentidos e simbolismos) realizadas
durante o I Encontro de Memórias da Cabanagem (Cuipiranga – Santarém – Pará,
jan. 2011).
|
|
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
|
O termo
“cabano”, segundo Gonzaga Duque (1898), seria uma expressão corriqueira entre
a elite imperial brasileira em meados de 1830: as diversas revoltas de homens
de cor em diversas regiões do Brasil eram classificadas como “cabanadas”, de
modo pejorativo, devido a formação de seus exércitos serem compostos de
caboclos, índios, mestiços e negros do interior das províncias, tais como a
Cabanagem e a Cabanada ou Revolta das panelas; exceto a Balaiada, “onde os
revoltosos – bemtevis – denominavam sarcasticamente de ‘cabanos’ os seus
adversários legalistas para assim confundi-los com o bando de fanático e
ignóbil que assolavam as matas de Pernambuco e do Pará” (grifo do autor).
O uso da expressão teria chegado aos revoltosos do Grão-Pará através de
tropas legalistas que foram transladadas de Pernambuco para a Província do
Norte, e como infere Balkar Pinheiro (1998) nada mais fora do que uma
estratégia ideológica de homogeneizar os diferentes sujeitos a quem o governo
reprimia no Grão-Pará. Todavia, esta tessitura da história fora ocultado por
aqueles que consideraram-se “vitoriosos”, os quais estabeleceram outros
significados para o termo “cabano”, relacionando sua significância ao fato de
habitarem em casas muito pobres e de materiais muito frágeis, alcunhadas de
“cabanas”.
|
|
CONCLUSÕES:
|
Em
suma, segundo Lima (2008), o termo “cabano” fora introduzido pelo Marechal
Francisco José de Souza Soares d’Andréa, que por não encontrar na lei formas
de condenar os rebeldes, criou o chamado crime geral de cabano, passando a
unificar todos que indistintamente eram rebeldes, turbulentos, ladrões... Uma
vez que, para as tropas anti-cabanas, desta forma tornava-se possível manter
como um único e mesmo inimigo, todos os diferenciados sujeitos a quem
confrontavam.
Quanto aos revoltosos, a priori ninguém queria ser intitulado “cabano”
(devido sua carga pejorativa), preferiam ser chamados de “patríssios” (APEP,
Cód.888) e/ou “valentes paraenses” como afirma o Sr. Cláudio José (entrevista
concedida em jan. 2011). Entretanto, no decorrer do processo da Cabanagem
(1835-40), os revoltosos adotaram o termo negativo daqueles que os combatiam
como algoz na guerra, no entanto, fizeram isto mediante um processo de
ressignificação atrelado a qualidades como bravura, coragem e resistência
observadas e compartilhadas no cotidiano dos mesmos, o que externa uma noção
de identidade, significados e adoção de simbolismos como discutem Canclini (2006,
p. 190), Hall (2006, p.65) e Elíade (1998).
|
|
|
Palavras-chave: Discussão historiográfica
Cabanos
Significados
|
|
Pôster do trabalho apresentado na 65ª Reunião Anual da SBPC
DADOS CATALOGAIS NACIONAIS DE PUBLICAÇÃO:
MELO, Wilverson R. S. de. Prospecções e Discussões acerca do Sujeito e uso do termo "cabano". In: 65ª REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA (SBPC), 2013, Ciência para o Novo Brasil (Anais) ... Recife: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), 16-17, 21-26 de Julho de 2013. pág. 1. Disponível em:
http://www.sbpcnet.org.br/livro/65ra/resumos/resumos/5525.htm
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário