
Minha ida a comunidade de remanescentes de quilombos do Arapemã residentes no Maicá foi caracterizada por diversos relatos de quilombolas sobre suas lutas pela liberdade, tanto de seus antepassados quanto daqueles que ali estavam.
Primeiramente, fizemos uma oração para que Deus abencoasse a todos os presentes. Após, incidentalmente, comecou-se a falar sobre o chibé ou jacubá, alimento essencial do pescador. Houveram risos descontraidos, adaptando-se às cameras que tudo filmavam.
Um relato antigo, que ja não possuia um dono, para mim foi ícone da sempre viva luta pela liberdade compreendida em todas suas possibilidades. Falou de quando, na época da Cabanagem, após presenciarem um dos seus ser severamente espancado, alguns escravos decidiram fugir embarcando em uma canoa na calada da noite. Após a alcancarem, começaram a remar frenéticamente. O dia começou a raiar, e um galo foi ouvido.
Eles se perguntaram se aquele seria um galo de "aruanda". Alguns disseram que sim, outros que nao. Alguém falou que era o galo do senhor (da senzala).
Triste desventura, puderam ver com a luz do sol que a canoa jamais havia saído do lugar, pois não tinha sido desamarrada da margem do rio.
Subitamente, o senhor surgiu e indagou o que eles faziam ali. Todos emudecidos, foram levados de volta ao cativeiro e duramente castigados.
Um sonho que se transformou em pesadelo, um sonho de liberdade frustrado pelo peso da realidade.
Eis ai a inegável forca dos quilombolas, que ontem e hoje continuam buscando a plenitude de suas existências.
Para finalizar, almoçamos todos na casa de um dos quilombolas e nos despedimos levando um pedaço do passado de nossos anfitriões.