Índio Mura

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Galo de "Aruanda"

Crônica de Jose Renato da Costa Oliveira Junior, estudante de Direito da Universidade Federal do Oeste do Para.
Minha ida a comunidade de remanescentes de quilombos do Arapemã residentes no Maicá foi caracterizada por diversos relatos de quilombolas sobre suas lutas pela liberdade, tanto de seus antepassados quanto daqueles que ali estavam.
Primeiramente, fizemos uma oração para que Deus abencoasse a todos os presentes. Após, incidentalmente, comecou-se a falar sobre o chibé ou jacubá, alimento essencial do pescador. Houveram risos descontraidos, adaptando-se às cameras que tudo filmavam.
Um relato antigo, que ja não possuia um dono, para mim foi ícone da sempre viva luta pela liberdade compreendida em todas suas possibilidades. Falou de quando, na época da Cabanagem, após presenciarem um dos seus ser severamente espancado, alguns escravos decidiram fugir embarcando em uma canoa na calada da noite. Após a alcancarem, começaram a remar frenéticamente. O dia começou a raiar, e um galo foi ouvido.
Eles se perguntaram se aquele seria um galo de "aruanda". Alguns disseram que sim, outros que nao. Alguém falou que era o galo do senhor (da senzala).
Triste desventura, puderam ver com a luz do sol que a canoa jamais havia saído do lugar, pois não tinha sido desamarrada da margem do rio.
Subitamente, o senhor surgiu e indagou o que eles faziam ali. Todos emudecidos, foram levados de volta ao cativeiro e duramente castigados.
Um sonho que se transformou em pesadelo, um sonho de liberdade frustrado pelo peso da realidade.
Eis ai a inegável forca dos quilombolas, que ontem e hoje continuam buscando a plenitude de suas existências.
Para finalizar, almoçamos todos na casa de um dos quilombolas e nos despedimos levando um pedaço do passado de nossos anfitriões.

2 comentários:

  1. Parabéns pela iniciativa de levantar esse momento histórico,tão importante de nossa região.Concerteza essas populações merecem todo o nosso respeito...
    "Eis ai a inegavel força dos quilombolas"
    E "cabanos" todos somos,pois lutamos por nossos idéais.
    Ps:Drielly silva

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  2. Ainda estou atordoado física e espiritualmente depois dessa experiência fantástica que foi a Caravana Cabana. De alguma forma, é doloroso retomar a vida, a rotina, que pareceu velha e deslocada.
    Minha avaliação ainda superficial foi que tivemos um sucesso total e superamos nossas expectativas em relação ao nosso projeto inicial, que era recolher relatos sobre a Cabanagem e produzir documentários, livros, fotos etc. Tudo isso foi alcançado. Devemos ter agora um arquivo de quase 50 horas de entrevistas em vídeo e outras tantas em audio, o que já constitui o maior arquivo do tipo sobre as memórias da Cabanagem, no Oeste do Pará. Aproximadamente 80 pessoas de diferentes comunidades deram seus depoimentos. As fotos captaram rostos, expressões e paisagens lindas. As anotações de Deborah Goldemberg e dos outros membros ainda vão dar muuuuuitos frutos).
    Digo que o resultado superou tudo isso quando me refiro aos profundos impactos que a CARAVANA provocou nos moradores das comunidades visitadas e seus vizinhos, que acorreram aos locais para nos encontrar e que ficaram estimulados a lembrar e recontar suas histórias, mitos e sonhos. Sem contar que as pessoas aproveitaram o momento para mostrar danças tradicionais, bebidas e beijus, para fazer fogueiras e rituais. Falar da Cabanagem pçara eles é falar e vivenciar o seu "modo de vida total", incluindo o tarubá, o xibé e a comida coletiva.
    Refiro-me também aos impactos que a viagem provocou nos participantes da Caravana, paulistas e paraenses. Todos voltamos aos nossos mundos transformados e envolvidos nessa ambiência da vida do povo do interior da Amazônia, sejam eles negros, indígenas, ribeirinhos ou outros. Por isso, o grupo decidiu dar continuidade ao projeto coletivo. Os frutos não demorarão. Na verdade já estão aí.
    No coração, a saudade das pessoas simples e acolhedoras, dos seus sorrisos e dos seus abraços. Não tem como evitar. NÓS VOLTAREMOS, E SEREMOS MAIS. VOLTAREMOS E SEREMOS MUITOS, MILHARES, POIS NÓS SOMOS OS CABANOS(AS) VIVOS DE HOJE, E AINDA ESTAMOS DE PÉS.

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