Wilverson Rodrigo S. de Melo - Pesq. de História da Amazônia |
A chegada dos caravanistas na comunidade de Cuipiranga - último reduto organizado de resistência cabana no Grão-Pará - foi marcada por uma recepção dos comunitários com a manifestação cultural do Marambiré e posteriormente seguimos para apresentações e interações com os residentes da comunidade no barracão comunitário.
A tarde deu-se início as discussões e provocações quanto a Revolução Cabana entre a comitiva caravanista juntamente com a comunidade. Na ocasião foram levantados muitos questionamentos tais como: a participação da mulher na Cabanagem; as andanças do Cônego Batista Campos pelo Baixo Amazonas; implicações desta revolução com a matriz de identidade amazônida; quais as relações do retrospecto histórico cabano com as lutas dos amazônidas na atualidade. Todos estes temas alimentaram um proveitoso debate e roda de conversa com respeito a Guerra da Cabanagem, tornando-se um momento ímpar deste Encontro.
Ao cair da noite, fora exibido na comunidade dois filmes documentários de curta duração: "Caravana da Memória Cabana" imagens de Florêncio Vaz e edição de Ramom; e "Memórias cabanas" do cinegrafista santareno Clodoaldo Corrêa... na ocasião, a própria comunidade pode vislumbrar-se como protagonista deste acontecimento histórico.
Toda a mística em rememorar os acontecimentos e a luta dos cabanos está no sentido de honrar suas lutas e seus sacrifícios em prol de um ideal e melhoria de vida de suas gerações futuras - nós -, como a passagem bíblica em 2 Timóteo 4:7, menciona "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé"...estes nossos antepassados cabanos travaram sangrentos combates, morreram pela causa, agora cabe a cada um de nós perpassar essas memórias e militar em favor de melhorias de vida de nosso povo contra a política neoliberal que tenta dizimar a cultura e identidade amazônida por meio da opressão cultural e subalternidade da dignidade do povo da Amazônia.
Há muito tempo o silêncio paira sobre o ecossistema amazônico, chegou o momento de descortinarmos os fatos e acontecimentos esquecidos, suplantados e ocultados a sociedade brasileira, especificamente a amazônida, pois tão certo como torna-se um delito grave tirar a vida de alguém, muito mais grave é manter o exímio esquecimento de nossa história e de seus mártires, pois um povo sem memórias é um povo sem história, logo torna-se um povo apático, alienado quanto a sua origem.
Então precisamos focar nossa visão no futuro, pois é certo que "ao visitar o futuro percebemos que este é perfeito e agradável;no entanto, para que permaneça assim, faz-se necessário saber de onde viemos, cultivar o nosso presente para então projetar este tão sonhado e simétrico futuro" (Wilverson Rodrigo S. de Melo - pesquisador de história da Amazônia).
Este é o momento de fazermos a diferença, de nos impormos e tentar se não reescrever ao menos ressignificar nossa história.... Saiamos do comodismo e tornemo-nos protagonistas de nossa história, que céus e terra sejam nossos testemunhos, que o tempo seja nosso papel e nossas atitudes e ações o tinteiro responsável por escrever no tempo o memorial de nossa vida, "pois o homem é filho de seu tempo". (BLOCH, Marc. Apologia da História ou ofício do Historiador).
VIVA A CABANAGEM!!!
A REVOLUÇÃO CABANA NÃO MORREU, NÓS SOMOS OS NOVOS CABANOS!!
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